Resultados da ressonância cardíaca em pacientes recuperados da COVID 19

14/08/2020, 18:40 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

  • Jorge Andion Torreão - Hospital Santa Izabel – Santa Casa da Bahia - Grupo D’Or / São Luiz (Hospital São Rafael e Hospital Cardiopulmonar) - Grupo Alliar (Clinica Delfin e Bioimagem do Hospital da Bahia) - Hospital Português da Bahia - Grupo MEDDI - Hospital São Roque

Fundamentação: A doença do coronavírus 2019 (COVID-19) vem causando considerável morbimortalidade em todo o mundo. Relatos de casos de pacientes hospitalizados sugerem um papel proeminenteda COVID19 no sistema cardiovascular, mas o impacto geral e suas nuances especificas permanecem desconhecidas.

Métodologia: Estudo prospectivo de coorte observacional, 100 pacientes recentemente recuperados de COVID-19 (confirmado por RT-PCR no trato respiratório) foram identificados no Hospital Universitário de Frankfurt entre abril e junho de 2020. Características demográficas, marcadores sorológicos e ressonância magnética cardiovascular (RMC) foram obtidas. Comparações foram feitas com grupos controle por idade e sexo em voluntários saudáveis (n = 50) e em pacientes pareados por fatores risco (n = 57).

Principais Resultados: Dos 100 pacientes incluídos, 53 (53%) eram do sexo masculino e a mediana da faixa etária foi de 49 (45-53) anos. O intervalo médio de tempo entre o diagnóstico de COVID-19 e a RMC foi de 71 (64-92) dias, 33 (33%) necessitaram de hospitalização. No momento da realização da RMC, a troponina T de alta sensibilidade (hsTnT) foi detectável em 71 pacientes (71%). Em comparação com controles saudáveis ​​e controles pareados pelos fatores de risco, os pacientes recentemente recuperados do COVID-19 apresentaram menor fração de ejeção do ventrículo esquerdo, maiores volumes ventriculares (VE e VD), maior massa ventricular esquerda e aumento de T1 e T2 nativos. Um total de 78 (78%) apresentaram achados anormais na RMC, incluindo T1 nativo do miocárdio aumentado (n = 73), T2 nativo do miocárdio aumentado (n = 60), realce tardio do miocárdio (n = 32) e realce pericárdico (n = 22). Biópsia endomiocárdica foi realizada em 3 pacientes com achados graves e revelou inflamação linfocítica ativa.

Conclusões: Numa coorte de pacientes recentemente recuperada da infecção por COVID-19, a RMC revelou comprometimento cardíaco em 78 pacientes (78%) e edema sugestivo de inflamação do miocárdio em andamento em 60 pacientes (60%), independentemente de condições, gravidade e evolução geral da doença aguda e tempo desde o início diagnóstico.

Impacto Clínico: Apesar da fabulosa evolução no conhecimento sobre a COVID-19 experimentada nesses poucos meses, fruto de uma inédita cooperação humana, trata-se de uma doença com fisiopatologia ainda não totalmente esclarecida. Esta é a primeira publicação de uma coorte prospectiva de pacientes não selecionados recuperados da infecção por COVID-19 que foram submetidos voluntariamente à realização de RMC. A anormalidade mais prevalente neste grupo foi inflamação do miocárdio seguida de realce tardio miocárdico e realce pericárdico. O acometimento cardíaco vem sendo descrito no contexto da infecção por COVID-19 desde as primeiras publicações ainda na China, especialmente na fase clínica (primeiros 15-20 dias) da doença e claramente associadas a um pior prognóstico.

Os achados descritos no estudo em destaque devem incitar outros pesquisadores a examinar cuidadosamente os dados existentes, além de coletar prospectivamente novos dados em outras populações com o intuito de confirmar ou refutar tais achados. A constatação de uma prevalência alta de acometimento cardíaco tardio (após 15-20 dias) visto pela RMC primeiramente deve ter seu real significado confirmado em relação ao contexto e evolução clínica desses pacientes, mas certamente nos serve de alerta e estimula a reflexão quanto a necessidade de uma vigilância responsável em relação aos pacientes recuperados da COVID-19. Os potenciais mecanismos de acometimento miopericárdico descritos para a COVID-19 são: lesão direta pelo vírus mediada por ECA2; lesão por hipóxia; lesões microvasculares; cardiopatia por estresse (Takotsubo like); lesão inflamatória sistêmica secundária; lesão inflamatória auto-imune; e lesão isquêmica por desestabilização de doença aterosclerótica coronariana existente.

Podemos apenas supor que sequelas identificadas no miocárdio e pericárdio após um acometimento precoce advém possivelmente de todas os mecanismos até o momento descritos e as lesões inflamatórias, em especial a auto-imune, devem ter papel fundamental no envolvimento tardio ativo, como aquele descrito nesta publicação. O diagnóstico do envolvimento cardíaco tardio é essencial para que as medidas terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas direcionadas à inflamação e ao coração sejam empregas adequadamente a fim de evitar maiores danos cardíacos/pericáricos, em especial a miocardiopatia com consequente insuficiência cardíaca. RMC parece ter a maior sensibilidade para este objetivo e, portanto, deve ser considerada em pacientes recuperados da COVID-19, especialmente naqueles que apresentam sintomas como dispneia, dor torácica, fadiga e taquicardia.

Referência:

  • Valentina O. Puntmann, MD, PhD; M. Ludovica Carerj, MD; JAMA Cardiol. doi:10.1001/jamacardio.2020.3557
  • #insuficiencia_cardiaca

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