Relação entre eventos cardíacos agudos e a Copa do Mundo de Futebol
Relação entre eventos cardíacos agudos e a Copa do Mundo de Futebol

30/11/2022, 11:33 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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A doença cardiovascular é a principal causa de morte no Brasil, com destaque para a doença isquêmica cardíaca cuja principal apresentação é o infarto agudo do miocárdio.

Existem muitos fatores de risco bem estabelecidos para o infarto agudo do miocárdio como hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes e tabagismo. Porém, ainda são discutíveis alguns fatores desencadeantes para os quadros cardíacos agudos.

Alguns desses fatores são reconhecidos como “gatilhos”, e podem ser definidos como um estímulo externo, atividade física, estado emocional ou estressante que produzem mudanças fisiopatológicas e levam a um evento vascular agudo.

Temos inúmeras evidências da influência da poluição atmosférica, extremos de temperatura fatores comportamentais e exposição a situações estressantes levando a alterações da pressão arterial, da frequência cardíaca, da viscosidade sanguínea e inflamação vascular e que podem culminar com o infarto e morte cardíaca.

A copa do mundo de futebol, que pode ser considerada para muitos um evento estressante, potencialmente pode se relacionar ao aumento de eventos cardíacos agudos. Porém, os relatos de associação entre partidas de futebol e infarto e morte cardíaca mantém-se controversos.

Em 2008 foi publicado um artigo que avaliou eventos cardiovasculares ocorridos em pacientes na área metropolitana de Munique (Alemanha) durante a copa do mundo de 2006, comparando com os anos de 2003 e 2005. Encontrou-se que durante o período da copa do mundo ocorreram 2,66 mais eventos que no período comparador. Para os homens a incidência foi 3,26 vezes maior e para as mulheres 1,82 vezes maior que durante o período de controle. Este artigo concluiu que assistir a uma partida de futebol estressante mais que dobra o risco de um evento cardiovascular agudo. (N Engl J Med 2008;358:475-83).

Avaliação semelhante foi feita no Brasil, na qual se comparou a incidência de infarto e óbito, nos anos entre 1998 a 2010, entre os dias sem copa, dias com jogos da copa mas sem jogos do Brasil e dias dos jogos do Brasil. Houve um aumento da incidência de infarto nos dias de jogos de copa do mundo (9% maior) e nos dias de jogos do Brasil (16% maior), porém, sem impacto sobre mortalidade intra-hospitalar (Arq Bras Cardiol. 2013;100(6):546-552).

Já outro estudo acompanhou por 16 anos internações por infarto do miocárdio na Suécia e associou um maior risco de infarto do miocárdio ao período do Natal e feriados de verão (15% maior), principalmente em pacientes idosos e mais doentes, mas não relacionou aumento do risco cardiovascular a eventos esportivos (BMJ 2018;363:k4811).

Outro estudo investigou a relação entre a audiência de futebol e a incidência de eventos cardiovasculares agudos na população masculina polonesa. Comparou-se a incidência de infarto agudo do miocárdio e parada cardíaca durante 3 torneios (Campeonatos da Europa de 2012 e 2016 e Copa do Mundo de 2018) e períodos correspondentes aos anos anteriores e posteriores aos torneios. Apesar de não se encontrar diferenças significativas na incidência de todos os eventos cardiovasculares entre a exposição combinada e os períodos de referência, percebeu-se uma maior incidência de infarto (20% maior) durante a copa do mundo (Kardiol Pol. 2020; 78 (11): 1148-1155).

Assim, a copa do mundo de futebol pode ser para muitos um evento estressante, e pode se relacionar a eventos cardíacos agudos. Tendo em vista esse risco potencialmente maior, particularmente em homens com doença cardíaca conhecida, medidas de cuidado são recomendadas.

Um paciente com cardiopatia descompensada ou que saiba ter doença cardíaca grave deve evitar esses gatilhos, incluindo emoções extremas. Também é importante o reconhecimento de um evento cardíaco agudo, como o início súbito de dor no peito, falta de ar ou percepção de alteração das batidas do coração e que devem levar a imediata procura por um serviço de emergência.

Por: João Fernando Monteiro Ferreira

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