A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) acompanha atentamente a pandemia de COVID-19 e suas consequências. Reconhecendo que “a contenção da epidemia é pilar central da estratégia”, como declarado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e, alinhado com a recomendação da Associação Médica Brasileira, visando consolidar as posições publicadas pelos departamentos especializados e sociedades filiadas, reúne de forma atualizada neste comunicado as recomendações para minimizar os riscos aos pacientes e a exposição do cardiologista durante a pandemia de COVID-19. É importante reconhecer que frente à dinâmica da pandemia ora corrente, qualquer dessas recomendações poderá ser atualizada caso surjam novos fatos e/ou evidências científicas. Reitera-se que é fundamental a adoção sistemática de todas as medidas preventivas recomendadas pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, provendo cuidado de alta qualidade para os pacientes com doença cardiovascular em meio à crise e ao mesmo tempo minimizando o risco de infecção do profissional de saúde cardiovascular. Nesse sentido, todo e qualquer atendimento deve respeitar as normas preconizadas de higienização, proteção individual e restrição de contato. O profissional de saúde é o ativo valioso no enfrentamento da pandemia, portando, deve-se pugnar por sua integridade física e psicológica, garantindo acesso prioritário aos exames diagnósticos (caso haja suspeita de contaminação pelo COVID 19) e outras medidas preventivas e/ou terapêuticas, como o acesso às vacinas previstas nos protocolos do Ministério da Saúde, ie: influenza e outras.
Cardiologia clínica
Suspender as consultas ambulatoriais eletivas presenciais. Caso o médico julgue imprescindível realizá-la, deve fazê-lo de acordo com as determinações das autoridades locais e do diretor técnico do serviço.
Sempre que possível, utilizar recursos de telemedicina (teleorientação, telemonitoramento e teleinterconsulta), conforme regulamentação do CFM.
Uso adequado e racional de insumos e equipamentos de proteção individual (EPI) para o profissional de saúde, conforme as orientações do Ministério da Saúde.
Priorizar leitos hospitalares para pacientes com quadro de COVID-10 grave.
Aconselhar, no caso dos pacientes internados, os familiares e acompanhantes a reduzirem as visitas hospitalares, bem como reduzir o tempo de permanência.
Cardiologia Intervencionista/eletrofisiologia/cirurgia cardíaca
Adiar procedimentos eletivos.
Minimizar o número de pessoas no laboratório de cateterismo cardíaco, readequar escalas para o fluxo reduzido de procedimentos e restringir a permanência de acompanhantes.
Usar laboratório de cateterismo ou sala cirúrgica com pressão negativa, se disponível.
Considerar fibrinólise caso a angioplastia não seja exequível.
Em pacientes infectados ou suspeitos, limitar a realização de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos às situações de emergência (bloqueios atrioventriculares de alto grau, infarto agudo do miocárdio com supradesnível de segmento ST e síndrome coronária aguda sem supradesnível de segmento ST com critérios de instabilidade imputados à doença coronária). Nos casos sem critérios de instabilidade, recomenda-se postergar até o momento em que se encontre em uma fase não infectante.
Minimizar a permanência hospitalar do paciente após o procedimento.
Prover proteção apropriada e rigorosa para pacientes e profissionais de saúde no laboratório de hemodinâmica.
Casos de pacientes que, mesmo sem urgência ou emergência caracterizada necessitem de intervenções cardíacas, devem ser analisados sob a perspectiva individual de cada caso e dos riscos oriundos de possíveis adiamentos. Vale a zelosa avaliação clínica pelos profissionais envolvidos, considerando o estado de saúde do paciente e o impacto da realização ou não da intervenção.
Ecocardiografia
Adiar os ecocardiogramas transtorácicos eletivos para serem realizados após o término da pandemia. Quando isso não for possível/factível, sugere-se que o médico ecocardiografista, em comum acordo com o médico solicitante, avalie a indicação apropriada e sua realização.
Cancelar todos os ecocardiogramas transesofágicos (ETE) e sob estresse eletivos. Em solicitações de ETE em pacientes internados, discutir com o médico assistente a indicação e a possibilidade de postergar. Nos casos em que se realizar o exame, usar EPI completo (luvas, gorro, óculos, avental cirúrgico, máscara N-95) e, se possível, capa protetora para o transdutor.
Em internados, a preferência é fazer os exames necessários à beira do leito, sempre com as medidas de proteção adequadas conforme o caso e com o menor número possível de indivíduos no aposento.
Diminuir o tempo de realização dos exames, direcionando para a queixa do paciente ou suspeita diagnóstica do médico assistente.
Limpar e desinfetar apropriadamente as máquinas e transdutores após o uso, de acordo com as especificações de cada fabricante.
Restringir a realização do ecocardiograma fetal às situações de alteração no exame de ultrassonografia morfológica fetal e/ou presença de fatores de risco significativos para cardiopatia congênita. Recomenda-se que esses exames sejam realizados fora do ambiente hospitalar.
Os demais métodos de imagem cardiovascular devem seguir as normas gerais deste documento, ou seja, postergar sempre que possível os procedimentos eletivos, discutindo a possibilidade de reagendar o exame, especialmente em indivíduos com sintomas respiratórios ou situação vulnerável.
Outros testes diagnósticos (eletrocardiograma, teste ergométrico, MAPA, Holter)
Adiar todos os exames eletivos.
A eventual suspensão de serviços ambulatoriais deve observar as determinações das autoridades sanitárias locais ou normas internas das instituições de saúde.
Referências:
Posição do Conselho Federal de Medicina sobre a pandemia de COVID‐19: contexto, análise de medidas e recomendações, http://portal.cfm.org.br/images/PDF/covid-19cfm.pdf
Infecção pelo Coronavírus 2019 (COVID-19)-Sociedade Brasileira de Cardiologia, http://www.cardiol.br/sbcinforma/2020/20200315-comunicado-coronavirus.html
Associação Médica Brasileira - Protocolos de atendimento durante pandemia Covid-19, https://amb.org.br/wp-content/uploads/2020/03/OF.DIR_.043.2020-Protocolos-de-atendimento-durante-pandemia-Covid.19.pdf
Posicionamento da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Interevncionista (SBHCI) sober a Pandemia COVID-19, https://www.sbhci.org/post/comunicado-04-2020
Recomendações DIC/SBC para a realização de exames de imagem cardiovascular durante a pandemia pela COVID-19, https://www.portal.cardiol.br/post/recomenda%C3%A7%C3%B5es-dic-sbc-para-a-realiza%C3%A7%C3%A3o-de-exames-de-imagem-cardiovascular-durante-a-pandemia
Driggin E, Madhavan MV, Bikdeli B, Chuich T, Laracy J, Bondi-Zoccai G et al. Cardiovascular Considerations for Patients, Health Care Workers, and Health Systems During the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Pandemic. , Journal of the American College of Cardiology (2020), doi: https://doi.org/10.1016/j.jacc.2020.03.031.