Pacientes com COVID e IAM tem carga trombótica maior

14/08/2020, 18:34 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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  • Humberto Graner Moreira

INTRODUÇÃO

A doença causada pelo novo coronavírus 2019 (COVID-19) pode predispor os pacientes a complicações trombóticas, tanto venosa quanto arterial. Os mecanismos envolvem a inflamação excessiva, ativação plaquetária, disfunção endotelial e estase (vide figura).

Por outro lado, muitos pacientes em uso crônico de antitrombóticos podem desenvolver COVID-19, o que irá implicar na escolha, dosagem e monitoramento da terapia antitrombótica.

Um estudo publicado recentemente no JACC revelou que pacientes com COVID-19 que também tiveram infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) concomitante, apresentaram maior carga trombótica, maior necessidade de cuidados intensivos e estadias mais longas no hospital.

METODOLOGIA

Este foi um estudo observacional e retrospectivo com 115 pacientes consecutivos (idade de 62 anos; 33,9% com COVID-19), internados em um centro cardiológico terciário em Londres com IAMCSST confirmado. Todos foram tratados com angioplastia primária. O desfecho primário do estudo foi mortalidade hospitalar por todas as causas; desfechos secundários incluíam carga trombótica, fluxo coronário pela classificação de TIMI, tempo de hospitalização e necessidade de permanência na unidade de terapia intensiva (UTI).

RESULTADOS

Pacientes com COVID-19 concomitante mostraram-se mais propensos a ter diabetes (46% vs 26%, respectivamente; p=0,038), hipertensão (72% vs 42%, respectivamente; p=0,003), hiperlipidemia ( 62% vs 37%, respectivamente; p=0,038), parada cardiorrespiratória (28% vs 9%, respectivamente; p=0,0013), e história de angioplastia prévia (23% vs 7%, respectivamente; p=0,016).

Além disso, os pacientes com COVID-19 tiveram níveis mais elevados de troponina (1221 ng/L vs 369 ng/L, respectivamente; p=0,0028), dímeros-D (1,86 mg/L vs 0,52 mg/L, respectivamente; p=0,0012), proteína C reativa (12 mg/L vs 50 mg/L, respectivamente; p=0,01), e contagens de linfócitos mais baixas (1,3,10 9 / L vs 1,7. 10 9 / L, respectivamente; p=0,0002).

Maior trombogenicidade também foi observada nos pacientes com infecção pelo novo coronavírus, incluindo maiores taxas de trombose multiarterial ( p=0,0003) e trombose de stent ( p=0,04). Pacientes com também necessitaram de maior uso de inibidores GPIIb/IIIa e trombectomia por aspiração (p<0,0001 e p=0,0021, respectivamente), e permaneceram mais tempo na UTI e no hospital (p<0,01).

COMENTÁRIOS

Para pacientes que se apresentam com IAMCSST e suspeita de COVID-19, os médicos devem avaliar os riscos e a gravidade da SCA em evolução com o potencial de gravidade do COVID-19, bem como os riscos que este paciente pode oferecer em termos de exposição dos profissionais de saúde e para o sistema de saúde em geral. Sendo uma doença de curso longo, podendo chegar até 2 a 3 semanas de evolução, a maior permanência hospitalar certamente se faz no contexto de cuidados da doença viral em curso. Mas a alta carga de trombos, trazendo dificuldades maiores inclusive no tratamento percutâneo, só reforça o caráter da COVID-19 como uma afecção muito pró-trombótica.

As limitações incluem sua natureza retrospectiva e observacional, unicêntrico e pequena coorte. Ainda assim, este é um estudo muito elucidativo, ao apontar as características de duas doenças graves concomitantes: COVID-19 e o próprio IAMCSST. Se a carga trombótica significativamente maior pode indicar, ou se beneficiar, de uma terapia antitrombótica mais agressiva, deve ser objeto de estudos prospectivos futuros.

REFERÊNCIA

Choudry FA, Hamshere SM, Rathod KS, et al. High thrombus burden in patients with COVID-19 presenting with ST-elevation myocardial infarction [published online July 10, 2020]. J Am Coll Cardiol. doi:10.1016/j.jacc.2020.07.022

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