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Estudo que indicou riscos do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para Covid-19 é invalidado

Cientistas afirmaram não poder garantir a veracidade dos dados usados para fundamentar pesquisa; OMS retoma testes com substâncias


Três autores de um estudo sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19, publicado no dia 22 de maio, na revista médica britânica The Lancet, pediram retratação. Os cientistas afirmaram não poder mais garantir a veracidade dos dados das fontes usados para fundamentar a pesquisa, que havia constatado risco de arritmia cardíaca e morte no uso das substâncias contra o novo coronavírus. Na comunidade científica, a retratação é um mecanismo de correção da literatura para alertar sobre problemas e erros. Na prática, essa pesquisa perde o valor científico.


O estudo, que analisou dados médicos de 96 mil pessoas, motivou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a suspender, no dia 25 de maio, os testes com hidroxicloroquina nos ensaios clínicos Solidariedade – uma iniciativa internacional coordenada pela entidade –, devido os estudos recentes mostrarem que a substância não é eficaz contra a Covid-19 e pode aumentar a taxa de mortalidade.

Porém, no último dia 3 de junho, mesmo após a publicação um dia antes de uma manifestação de preocupação sobre a pesquisa na The Lancet, dizendo que importantes questões científicas haviam sido levantadas sobre os dados relatados no estudo, a OMS decidiu retomar os testes com a substância.


Foi a imprensa que revelou as fragilidades do artigo publicado em 22 de maio. O jornal britânico The Guardian percebeu erros básicos. O número de mortos pelo coronavírus na Austrália, por exemplo, não batia com a estatística oficial.


A investigação revelou ainda que a pesquisa publicada pela revista britânica usou informações não confiáveis de uma empresa americana desconhecida, chamada Surgisphere, sem credibilidade, que contrata até pessoas sem formação em análise de dados ou ciência. O jornal fala que um dos funcionários dessa empresa é escritor de ficção científica.


Já a Surgisphere fala que tem um sistema de análise de dados que ”monitora em tempo real milhões de pacientes em 1.200 hospitais de 46 países”. Mas não há uma transparência sobre a metodologia.


O diretor-executivo da empresa assinou o artigo da The Lancet como um dos quatro autores. Todos, menos ele, pediram a retratação do estudo no dia 4 de junho.


No site, a Surgisphere afirma que a pesquisa não foi financiada por nenhuma empresa farmacêutica, doador ou organização política, que seu banco de dados passa por auditorias externas regularmente e apontou que, claramente, o estudo observacional é limitado, que vários outros estudos com a mesma tecnologia chegaram a resultados semelhantes.


A revista científica The Lancet afirmou que leva a sério as questões de integridade científica e que há muitas indagações pendentes sobre a empresa americana Surgisphere e sobre os dados supostamente incluídos no estudo.


Diante deste cenário, OMS informou que a retomada dos testes não significa a recomendação do uso do medicamento e afirmou que espera ter respostas definitivas em breve.

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