Estudo COPS - Colchicina em pacientes com Síndrome Coronariana Aguda

06/10/2020, 10:23 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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  • Dr. Fernando Bernardi
  • - Cardiologista Intervencionista pelo INCOR de São Paulo

Fundamentação: A Colchicina é uma droga anti-inflamatória que tem mostrado potencial de reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com doença arterial coronariana (DAC). O primeiro grande estudo que demonstrou um efeito positivo da Colchicina na DAC foi o COLCOT, onde pacientes pós infarto agudo do miocárdio (IAM) que receberam 0,5mg/dia da droga, em comparação com placebo, apresentaram uma redução de eventos clínicos isquêmicos combinados com um bom perfil de segurança1. O estudo COPS2, apresentado no ESC 2020, teve um desenho e objetivo muito semelhante ao COLCOT, que era estudar a eficácia e segurança da Colchicina em pacientes com síndrome coronariana aguda recente.

Metodologia: O COPS foi um ensaio clínico randomizado, onde pacientes foram randomizados 1:1 para receber Colchicina na dose de 0,5mg 2x/dia por um mês, seguido de 0,5mg ao dia por 11 meses, ou placebo. Os principais critérios de inclusão foram: paciente com ≥ 18 anos internados por síndrome coronariana aguda com DAC confirmada por cinecoronariografia, tratados com angioplastia ou clinicamente. Paciente que receberam tratamento cirúrgico, ou que apresentam alguma contraindicação para uso da Colchicina ou com insuficiência renal (clearance de creatinina < 30 mL/min) foram excluídos. O desfecho primário do estudo foi a incidência de eventos cardiovasculares maiores, compostos por morte por todas as causas, nova síndrome coronariana aguda, revascularização por isquemia e AVC não cardioembólico. Desfechos secundários foram a ocorrência isolada dos eventos do desfecho primário.

Principais Resultados: Um total de 795 pacientes foram incluídos no estudo com seguimento de 12 meses. A idade média da população foi de 59,8 anos e 80% eram homens. Quanto a apresentação clínica, 50% dos pacientes se apresentaram com um IAM com supradesnível do segmento ST e 46% com IAM sem supradesnível do segmento ST. Angioplastia coronariana foi realizada em 87% dos casos. O desfecho primário em 12 meses ocorreu em 6,1% no grupo Colchicina e 9,5% no grupo placebo (P=0,09). No grupo Colchicina ocorrereu menor necessidade de revascularização de emergência (3 casos vs. 12, P=0.037). No entanto, ocorreram mais mortes por todas as causas no grupo Colchicina (8 casos vs. 1, P=0,047) e também mortes não cardiovasculares (5 casos vs. 0, P=0,037).

Conclusão: Em paciente com síndrome coronariana aguda, a utilização de Colchicina não foi associada a melhores desfechos cardiovasculares após 1 ano. Houve um sinal preocupante de mais morte por todas as causas e mortes não cardiovasculares nos pacientes que receberam Colchicina.

Impacto Clínico: O estudo COPS, apesar da semelhança, não conseguiu reproduzir os resultados positivos do estudo COLCOT publicado em 2019. Apesar de ter sido observado uma redução numérica de eventos isquêmicos no grupo que utilizou a Colchicina, essa diferença não se mostrou significativa. Não se pode desconsiderar a possibilidade de um erro tipo II (erro beta), devido falta de poder do estudo, uma vez que o número de participantes enrolados foi muito menor (6x menor) do que o COLCOT. Além disso, o tempo de seguimento do COLCOT foi quase o dobro do COPS (22 meses vs 12 meses). Em uma subanálise do COPS, com um seguimento de 400 dias, a diferença do número de eventos do desfecho primário foi de 24 eventos vs. 41 eventos em comparação ao palcebo, desta vez mostrando uma diferença significativa com um P=0,047. Portanto, é possível que a Colchicina realmente tenha um efeito benéfico na redução de eventos cardiovasculares a longo prazo nesses pacientes com quadro coronariano agudo. O achado de mais mortes por todas as causas e mais mortes não cardiovasculares no grupo Colchicina acende um sinal de alerta. No entanto, as causas das mortes não foram apresentadas, sendo difícil tirar conclusões concretas. Há a possibilidade desse achado ter sido meramente por acaso, uma vez que o número de eventos foi pequeno. Além do mais, no estudo COLCOT não foi observado um aumento de mortalidade com a Colchicina, onde ocorreu uma taxa de morte por todas as causas de 1,8% tanto no grupo Colchicina quanto no grupo placebo. No ESC 2020 também foi apresentado o estudo LoDoCo2, que demonstrou uma redução de eventos isquêmicos com Colchicina em indivíduos com DAC estável, também de forma segura, sem aumento de mortalidade. Portanto, parece que a Colchicina em doses baixas é segura nos pacientes com DAC, com potencial promissor de reduzir novos eventos isquêmicos. Esses resultados positivos de um fármaco anti-inflamatório na DAC mais uma vez reforçam a importância da inflamação na doença aterosclerótica e a possibilidade de atuar sobre ela.

Referências Bibliográficas:

  1. Tardif J-C, Kouz S, Waters DD, Bertrand OF, Diaz R, Maggioni AP, Pinto FJ, Ibrahim R, Gamra H, Kiwan GS, et al. Efficacy and Safety of Low-Dose Colchicine after Myocardial Infarction. N Engl J Med. 2019;381:2497–2505.
  2. Tong DC, Quinn S, Nasis A, Hiew C, Roberts-Thomson P, Adams H, Sriamareswaran R, Htun NM, Wilson W, Stub D, et al. Colchicine in Patients with Acute Coronary Syndrome: The Australian COPS Randomized Clinical Trial. Circulation. 2020;CIRCULATIONAHA.120.050771.
  3. #SINDROME_CORONARIANA_AGUDA

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