Uma intervenção segura e de fácil aplicação pode beneficiar pacientes com IC no mundo todo
Uma intervenção segura e de fácil aplicação pode beneficiar pacientes com IC no mundo todo

11/05/2023, 11:18 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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Estudo divulgado na ABC Cardiol investiga a neuromodulação vagal auricular para melhora da variabilidade da frequência cardíaca.

Pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca (IC) podem viver um ciclo vicioso, de piora da condição, que consiste em: desequilíbrio do sistema nervoso autônomo, com excesso de atividade simpática e diminuição da atividade vagal. Uma possibilidade terapêutica foi investigada em um recente estudo, divulgado na revista ABC Cardiol. Trata-se da estimulação elétrica transcutânea de baixa intensidade do ramo auricular do nervo vago.

O estudo, Neuromodulação Vagal Auricular e sua Aplicabilidade em Pacientes com Insuficiência Cardíaca e Fração de Ejeção Reduzida, é inédito no mundo todo pela neuroestimulação vagal a nível auricular para tratamento da ICFEr.

“Existe a neuromodulação vagal invasiva, que ocorre através da dissecção do plexo cervical e que necessita de um procedimento cirúrgico. A nível auricular, como fizemos, não existe nenhuma publicação”, explica Sergio Menezes Couceiro, principal autor do artigo, especialista em Cardiologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e titular pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

O primeiro passo para a realização do estudo foi uma pesquisa liderada pelo grupo do cardiologista Fernando Mendes Sant’Anna, que sugeriu a ideia de intervir a nível auricular.

Foi feita uma pesquisa inicial entre os artigos publicados no mundo sobre neuromodulação vagal invasiva e constatou-se que o procedimento reduzia a inflamação, aumentava a qualidade de vida e melhorava a capacidade física do paciente com IC. A partir disso, veio a definição do estímulo transcutâneo auricular, o delineamento da análise e a seleção de pacientes.

Para iniciar o estudo, os pacientes realizaram exames ecocardiográfico e holter, um teste de caminhada e o preenchimento de um questionário para medir a qualidade de vida. Depois de 30 dias de estudo, repetiram o processo. O procedimento da neuroestimulação vagal acontecia de segunda a sexta, por 30 minutos.

“Nós escolhemos o nervo vago porque é o maior nervo do corpo humano. Ele está distribuído por vários órgãos como a supra renal, o trato digestivo, o coração e um dos seus ramos emerge a nível da orelha. Assim foi possível estimulá-lo na concha cimba, sem invadir o corpo do paciente”, explica o autor.

Os pacientes foram divididos em dois grupos, um deles recebeu o estímulo real e o outro recebeu um falso estímulo (sham). O estudo foi duplo cego, nem o paciente e nem o investigador principal sabiam quem recebia o estímulo verdadeiro.

“Usamos um estímulo elétrico alternando baixa e média frequências, durante 30 minutos, usufruindo das vantagens de cada uma, pois ambas já haviam mostrado efeitos positivos sobre o sistema nervoso autônomo em outros estudos”, diz Sergio.

Alguns trabalhos já mostraram que esse tipo de estimulação pode diminuir a produção de interleucinas, fatores de necrose tumoral e outras substâncias pró-inflamatórias. A modulação autonômica, com redução da atividade simpática e aumento da parassimpática, é o que possivelmente levou à cardioproteção que foi demonstrada no estudo.

Os resultados mostram que o grupo que recebeu o estímulo obteve o melhor índice SDNN, que mede a variabilidade da frequência cardíaca. Quanto maior essa variabilidade, menor as chances de complicações cardíacas. Além disso, os testes, exames e as respostas ao questionário, realizados antes do estudo, também apresentaram melhores resultados no grupo que recebeu o estímulo quando repetidos ao final da análise.

A investigação teve início em novembro de 2021, com um grupo de 53 pacientes, e foi finalizada catorze meses depois, em março de 2022, com 42 pacientes analisados.

“Por conta da pandemia da COVID-19, muitos pacientes desistiram de participar por um receio de vir ao hospital. Por conta disso, precisamos movimentar a infraestrutura do ambiente para torná-la mais segura tanto para os pacientes quanto para os profissionais do local”, diz Sergio.

Para a realização do estudo, foi desenvolvida uma parceria entre o Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, e o Hospital Santa Izabel, na cidade de Cabo Frio, onde os procedimentos com os pacientes foram realizados.

Sergio adianta que já possui autorização da UFF para voltar a realizar a pesquisa, com algumas adaptações no próximo ano. Ele revela que gostaria de dosar marcadores inflamatórios sanguíneos dos pacientes, como o TNF, BNP e o PCR, algo que não foi possível no presente escopo.

Além disso, ele visualiza a necessidade de aumentar o período de realização do estudo de 30 dias para, por exemplo, 6 meses: “Uma dúvida que o estudo ainda deixou foi: a neuroestimulação vagal auricular funciona para o objetivo que traçamos, mas qual o tempo mínimo e o ideal para visualizarmos esses resultados?”.

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